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2004/03/31

Música: 2 Em 1 

Mais um momento de paixão. O CD tem por nome FlamencoJazz e é uma colectânea de encontros entre dois géneros musicais que provam que, assim como as pessoas, tudo se deve misturar, cruzar, envolver, e todas as palavras que signifiquem miscelânea.

O Jazz e o Flamenco, encontram-se aqui gerando em nós o turbilhão de sentimentos inerentes ao Flamenco; o Jazz entra como analgésico que dá prazer à dor. A sensação é tão fantástica quanto a mistura de whisky com chocolate, se não experimentaram, não sabem o que perdem. Ouvidos bem abertos para o som e o ritmo da "caixa" que se ouve ao longo do disco.

2004/03/30

Entre-aspas: Um ano de ti... 

...que quando cresceres saberás que tens um pai como todos os outros, mas especial por ser quem é. Ora lê:

«No sábado fizeste duas semanas. Foi dia dos namorados. Pela primeira vez eu e a tua mãe não fomos almoçar ou jantar fora. O almoço foi uma romântica lasanha fria pelas 5 da tarde. Depois dela te dar de mamar, trocar a fralda duas vezes e voltar a dar mama. Quando almoçamos já nem vontade tínhamos de comer. Mas ficámos felizes por acender uma vela, brindarmos ao futuro e devorarmos o comer em dez minutos pois já se aproximava a hora de acordares para nova mamada. Além disso havia ainda o chassis do teu carrinho que se partiu após três ou quatro saídas à rua e que precisava de ser trocado e tantas, tantas pequenas coisas por fazer. As tarefas agora nunca acabam e sentimo-nos corredores de maratona que nunca podem parar pois a estrada não acaba nunca e, por muito cansados que estejamos, há sempre mais qualquer coisa que não pode esperar para depois.»

in Um ano de ti, 16 de Fevereiro

2004/03/29

Momentos: Sobre o caminho 

Nada.

Nem o branco fogo do trigo
nem as agulhas cravadas na pupila dos pássaros
te dirão palavra.

Não interrogues não perguntes
entre a razão e a turbulência da neve
não há diferença.

Não colecciones dejectos o teu destino és tu.

Despe-te
não há outro caminho.

Eugénio de Andrade

2004/03/27

Teatro: O amor de Fedra 

Sala intimista. Olhares penetrantes. Fixos. Movimentos lentos aparentemente suaves, mas violentamente agressivos. Vozes graves, duras. Arrancam-me um batimento cardíaco mais forte. Luz. Escuro. Negro. Fecho os olhos. Arrasto-me por entre a peça, rasgando a minha própria "imagem de nunca". Amar nunca. Tu és sexo. Morro então...

Porque te amo? Porque me perturbas...

De Sarah Kane, encenação de Jorge Silva Melo e Pedro Marques (até dia 25 de Abril de 2004, no Teatro Taborda)

2004/03/26

Música: Acredita na Primavera? 

É fascinante como escolhemos uma música para reforçar ou altera um estado de espírito. Observo, por vezes, as minhas próprias escolhas. Quero acordar suavemente ou prefiro abrir as janelas de par em par e deixar entrar o sol? Quero aprofundar um estado de espírito negro ou, pelo contrário, apetece-me romper com essa disposição? Ou quero simplesmente chegar a casa e saborear sons que lavem a pressão do dia e deixem a noite entrar? É quando procuro essa paz que os meus dedos tendem a encontrar o You Must Believe in Spring de Bill Evans.

Não é por acaso que Bill Evans é considerado um dos pianistas mais importantes do jazz e que o seu legado influenciou outros génios como Keith Jarrett, Herbie Hancock ou Chick Corea. E não é por acaso porque a sensibilidade com que Evans toca as teclas do piano é um fenómeno único, um diamante cuidadosamente lapidado que espera apenas pelos nossos ouvidos atentos para ser apreciado. Gravado ao vivo em Agosto de 1977, com o contrabaixista Eddie Gomes e o baterista Eliot Zigmund, este disco esperou mais de dez anos para ser editado. Só em 1988 é que viu a luz do dia, oito anos depois da morte prematura do pianista. E, agora que a primavera chegou, apetece-me mesmo acreditar nela...

2004/03/25

Entre-aspas: "Fazer as pazes" connosco... 

«Quando começamos a practicar meditação ou uma disciplina espiritual, temos tendência para pensar que vamos deixar de ser isto ou aquilo que consideramos "negativo". No entanto, o objectivo da meditação é criar uma amizade justamente com a pessoa que, no momento presente, somos. Aceitá-la sem receios, valorizar, cultivar ou redescobrir em nós o que já existe e aguçar a nossa curiosidade por essa pessoa, indepedentemente do carácter agradável ou desgradável daquilo que nos interessamos. (...) Ver com simplicidade as emoções - negativas e positivas - que estamos a sentir e os nossos pensamentos. (...) Em vez de procurar melhorar ou modificar o ser que somos, o que importa é despertá-lo. E um dos maiores obstáculos nesse sentido é o ressentimento: não gostar da pessoa que somos ou do lugar onde nos encontramos.

(...)

E só ao criar esta amizade - que é reconciliação - connosco próprios é que podemos compreender verdadeiramente ou outros e reconciliarmo-nos com o mundo. »

Revista XIS, Jornal Público de 20 de Março 2004

2004/03/24

Música: A menina dança? 

Mais um sábado de glória (ou falência!) no meio dos discos. Encontrei um moço canadiano, dono de uma voz de encher os ouvidos. Michael Bublé tem 27 anos e canta standards de uma forma única. Recupera um género musical mais ou menos morto desde Sinatra. Os arranjos são simples mas fantásticos, o swing que a "banda" dá aos temas é leve, e os pés vão marcando ritmos sem que tenham recebido ordens para isso. Bublé abre o CD com um sólido "Fever" e o segundo tema ("Moondance"), transporta-nos para uma pista com quem quisermos trocar afectos ou sorrisos de gozo puro.

Escreve estas linhas quem tem dois pés esquerdos, e que o mais perto que consegue estar de uma pista de dança é junto ao bar!

A propósito:

- A menina dança ?

2004/03/22

Momentos: O meu amor...  

Sintam este amor. Fechem os olhos... e deixem-se embalar nesta voz, nesta entrega...

«...o meu amor
tem um jeito manso que é só seu
De me fazer rodeios,
de me beijar os seios
Me beijar o ventre
e me deixar em brasa
Desfruta do meu corpo como se o meu corpo
Fosse a sua casa, ai... »

Chico Buarque

2004/03/21

Livros: Nomes que enchem dias 

Há qualquer coisa na escrita de Maria do Rosário Pedreira que me chama. Qualquer coisa que um dia chamou a minha atenção para um livro dela, escondido entre tantos outros numa estante de uma livraria moribunda. Qualquer coisa que me leva a percorrer a sua escrita melancólica, de solidão e abandono, dividida entre a poesia e a voz singular de um romance. Há uma intensidade na forma como ela escreve que me transporta para as sensações que evoca. Há qualquer coisa de profundamente feminino e intensamente humano na sua escrita, uma emoção que transborda das palavras e que nos pede para ser sentida...

E isto a propósito de Nenhum Nome Depois, o seu último livro de poemas. Poemas que se desenrolam com sabor a prosa. Poemas que evocam histórias mais vastas. Poemas que desenham breves esboços na imaginação de quem lê. Poemas que sugerem muito mais do que contam. Poemas que percorrem um universo pessoal de amor e perda, de abandono e morte. Poemas que se lêem e perduram na memória...

«Nunca soube o teu nome. Entraste numa tarde,
por engano, a perguntar se eu era outra pessoa -
um sol que de repente acrescentava cal aos muros,
um incêndio capaz de devorar o coração do mundo.

Não te menti; levantei-me e fui levar-te à porta certa
como um veleiro arrasta os sonhos para o mar; mas,
antes de te deixar, disse-te ainda que nessa tarde
bem gostaria de chamar-me outra coisa - ou
de ser gato, para poder ter mais do que uma vida.»

2004/03/19

Entre-aspas: As pálpebras 

«A cerimónia do chá teve a sua origem na veneração de Bodhidharma, de quem se diz ter arrancado as suas pálpebras para evitar adormecer enquanto meditava.

A lenda diz que nasceram plantas de chá no lugar onde as pálpebras caíram por terra. Embora actulamente a cerimónia do chá seja principalmente um ritual, permanece o propósito de união de corpo e mente. A cerimónia pode parecer demasiado meticulosa e estilizada, mas, na verdade, preserva a mais pura simplicidade de movimentos.»

in Livro do ZEN, Eric Chaline, Editora Dinalivro

2004/03/18

Livros: Ao virar da página... 

Quando me emprestaram este livro há alguns meses, peguei nele com cuidado... Um livro que tem por título Pequeno Tratado das Perversões Morais está mesmo a pedir para ser manuseado com cuidado! Comecei a folheá-lo e detive-me na introdução. Começa assim:

«Todos nós já nos cruzámos, na nossa vida privada ou no trabalho, com seres destituídos de escrúpulos, calculistas, astuciosos, manipuladores, com condutas algo "retorcidas". De igual forma, a história é rica em homens de poder que faltam aos seus deveres, abusam das suas prerrogativas, pretendem atingir os seus objectivos custe o que custar, desprezando as pessoas, as regras comuns, o interesse geral. A imprensa tira partido do cinismo deste ou daquele homem político. Em todo o lado se ouvem hoje lamentos sobre a "crise de valores" que alegadamente atravassaríamos, sobre a corrupção, que se generalizaria, e sobre a ausência de normas, o que conduz à proliferação de comissões deontológicas e de ética. (...) Não basta ficar pela pura e simples rejeição, pela reprovação indignada. É verdade que ninguém gosta de ser enganado, explorado, manobrado. Porém, a melhor maneira de se proteger não consistirá em compreender em vez de condenar?»

É isso que Alberto Eiguer nos propõe, que conheçamos o mitómano que cria uma personagem para si próprio e para os outros, o falso-self que se perde na sua própria fachada, o perverso-narcísico que se faz valer à custa dos outros, o cínico político que se refugia na retórica vazia, o masoquista que arranja maneira de continuar a sofrer, o psicopata que "viola" para roubar o amor ou o jogador que se arrisca a si próprio para ganhar a emoção. Mas Eiguer não descreve monstros que só se encontram em cativeiro, descreve pessoas que nos rodeiam. Descreve mesmo, por vezes, partes de nós próprios. É por isso que este é um livro para ler devagar, com cuidado. Como se ao virar da página pudéssemos ter um encontro inesperado...

2004/03/17

Momentos: Estação 

Esperar ou vir esperar querer ou vir querer-te
vou perdendo a noção desta subtileza.
Aqui chegado até eu venho ver se me apareço
e o fato com que virei preocupa-me, pois chove miudinho

Muita vez vim esperar-te e não houve chegada
De outras, esperei-me e eu não apareci
embora bem procurado entre os mais que passavam.
Se algum de nós vier hoje é já bastante
como comboio e como subtileza
Que dê o nome e espere. Talvez apareça

Mário Cesariny

2004/03/16

Teatro: Vagabundos de nós... 

Estreia já no próximo dia 18 de Abril, no Teatro Maria Matos, em Lisboa. O impulso que me traz a escrever sobre uma peça que não vi, resulta de alguma indignação perante a forma como este tema é "vestido e maquilhado" pela nossa sociedade. Li o livro. Fascinante. Para mim, Daniel Sampaio é um homem fascinante. Realista. Hiper-realista. Hoje só gostava de deixar algumas questões...

Título do artigo no Expresso: "falar do irremediável" como se de um fardo tratasse...

Caricatura no Herman SIC sobre a peça: panóplia de imagens tipo divertidas (?) de um conceito de homossexualidade que há muito não é por aí... os risos nervosos e sarcásticos para transmitir mensagens...

Seja lá como for, ainda não estamos preparados para dizer não há diferenças, há diferenciados. Estes últimos são os que conseguem ver... os outros são os que andam por andar, mas sempre sem quererem ver. O que fará as pessoas rejeitarem a homossexualidade? A atracção-repulsa que não conseguem discernir?! Ou será o simples facto de capear a sua própria história... ou então não é nada disto, é um simples "deixa estar, comigo (ou com filho meu) nunca será assim". A peça fala em disfuncionalidade familiar. Eu sugeria começarmos pela disfuncionalidade individual versus a social. Mesmo porque as famílias não sofrem disfuncionalidades derivadas das opções sexuais. O conceito de família nos dias de hoje é, por si só, disfuncional.

Bom, mas vou ver a peça. Na esperança que não se toque no medo simplesmente através do território onírico (como sugere Luís Osório, encenador e adaptador do texto de Daniel Sampaio), mesmo porque a homossexualidade é uma realidade e não um sonho. E há realidades que é bom que comecemos a aceitar, para não ficarmos vagabundos de nós mesmos...

2004/03/15

Momentos: Um lugar nenhum 

«Um lugar. Onde nenhum. Um tempo para tentar ver. Tentar dizer. Quão pequeno. Quão vasto. Se não ilimitado com que limites. Donde o obscuro. Agora não. Agora que se sabe mais. Agora que não se sabe mais. Sabe-se somente que saída não há. Sem se saber porque se sabe somente que saída não há. Somente entrada. E daí um outro. Um outro lugar onde nenhum. Donde outrora dali regresso nenhum. Não. Lugar nenhum a não ser só um. Nenhum lugar a não ser só um onde lugar nenhum. Donde nunca outrora uma entrada. Dalgum modo uma entrada. Sem um só além. Dali donde não há ali. Por lá onde por lá não há. Ali sem de lá nem dali nem sequer por onde.»

in Pioravante Marche, Samuel Beckett

2004/03/14

Entre-aspas: A face atrás de um blog... 

Um espaço, uma imagem e quem sabe até uma expectativa. Na luz deste corredor, há sombras que não iremos reconhecer. Outras... representam o sabor humano da história de cada um. Esta partilha permite percepcionar quem está do outro lado das palavras e das imagens. Olhares tímidos, reservados, que se abrem e que se vão revelando gradualmente. Um Marquês de olhar invulgar, sábio de vivência. Um Bisturi diplomata e preciso na sua interacção. Para vós, em especial, que nos presentearam e que nos receberam, um obrigado sentido. Para todos os restantes, vários minutos de bem estar, distribuídos ao sabor da memória dos minutos que partilhámos!

Sentir é muito mais do que ler o outro. Foi bom o atrevimento de procurar as faces que se encontram do outro lado da rede, as faces de quem escreve os textos que lemos todos os dias.

2004/03/12

Livros: Como tornar-se doente mental 

«Pode aprender-se a ser algo que já julgamos ser?!
Bem a resposta a esta pergunta não te sei dar, apesar de andar há muito tempo, a aprender, ou não!
(...) se há parte das pessoas que nos rodeiam (...) que pensa que sabe exatamente o que nós somos, existem sempre alguns cépticos ou ingénuos, ou as duas coisas...que vivem num dilema profundo, e é a esses que temos de ajudar, ou não!
(...)
Esta é uma árdua tarefa, para a qual te motivo. Para te tornar mais fácil e menos penoso o caminho ofereço-te este livro que espero que te ajude a aprender ou não!
»

Esta é parte da dedicatória de alguém muito especial que me ofereceu este livro. Este livro explica como adquirir uma doença psiquiátrica... explica que, mais difícil ainda, é manter-se saudável no meio desta complicada civilização consumista. Já o folheei, li partes do princípio ao fim... É controverso, provocador e por vezes acabamos mesmo por reagir à excessiva observação de nós mesmos e do potencial de pertubação mental latente em alguns de nós. Utiliza uma abordagem invulgar, desesperada por vezes. Mas fascinante. Repito o que atrás escrevi: perturbação. Nada mais que isso.

Só para curiosos(as), ou não!

Colecção Psicologia Clínica e Psiquiatria, J.L. Pio Abreu , Editora Quarteto

2004/03/11

Livros: Ainda há heróis? 

João Aguiar completa este ano vinte anos de carreira como escritor. Vinte anos que surpreendem, não só pela vitalitadade que mantém, mas sobretudo pela diversidade de estilos que utiliza, livro após livro. O último saiu em Fevereiro, chama-se O Sétimo Herói e é uma incursão deliberada no campo da fantasia. Uma síntese (com uma ponta de humor) das lições de Tolkien, com um piscar de olho a Harry Potter...

Mas a fantasia é só um veículo para introduzir uma metáfora em que o Reino da Lysitaya não é mais que Portugal e em que as princesas nem sempre são o que se espera... Jorge, o personagem principal, é um herói improvável. Um jovem de 18 anos, perdido na sua timidez, que se refugia na leitura obsessiva e num Clube dos Poetas Semi-Vivos cuja bebida oficial é o Ginger Ale, sem limão! Mas Jorge é raptado para outro universo por três pequenas criaturas e fica nas mãos da sábia Shenazimm, que o coloca perante enormes riscos, face aos quais se descobre adulto. É perante estes riscos que os seus conhecimentos, aparentemente inúteis no seu mundo, se revelam preciosos...

É difícil catalogar este livro... A fórmula do género é tão familiar como é habitual em João Aguiar a forma como a subverte. Não é, certamente, o melhor romance deste autor, mas é um livro que vale a pena percorrer e que desperta um sorriso bem disposto quando se chega ao fim. Gostei.

2004/03/09

Música: Redescobrindo... 

Esta noite redescobri The Trinity Session. Comecei pelo CD, límpido, transparente... Depois de duas audições, abri o gira-discos, procurei a cópia em vinil deste álbum perfeito e deixei que a agulha extraísse som dos relevos no plástico que roda trinta e três vezes por minuto... Voltei quase quinze anos atrás no tempo e lembrei-me da primeira vez que ouvi este disco, assim mesmo, em vinil. Tinha lido uma crítica a este álbum no caderno Vida d'O Independente e fiquei de tal forma entusiasmado com o que li que procurei este disco durante semanas. Quando finalmente chegou, corri para casa para o ouvir em concentração absoluta. No assombro da adolescência, acho que me apaixonei pela voz suave de Margo Timmins ao som de Mining for gold, a primeira canção do disco, interpretada por ela sem qualquer acompanhamento. Descobri nos Cowboy Junkies uma sonoridade impressionantemente tranquila, um misto de blues e country que se misturam num padrão hipnótico que nos leva até onde nós quisermos ir.

Depois do assombro inicial, lembro-me de ter partido em busca dos detalhes... E há tanta coisa que torna único este disco... Gravado numa única noite, com um único microfone ligado a um gravador DAT, respirando a acústica e a paz da Igreja da Santa Trindade, em Toronto... Mas perto do fim do disco encontrei uma música que captou a minha atenção de forma especial. No vinil tem mais ruído do que qualquer outra. Acho que é por a ter passado tantas vezes durante os anos em que fiz programas de rádio... É Sweet Jane, uma canção de Lou Reed, escrita e perdida no período final dos Velvet Underground, que aqui reencontra uma nova alma, um novo fôlego. E esta é uma música especial... Uma vez descoberta, acompanha-nos. Parte e regressa nos momentos que mais importam. Dá-nos a banda sonora perfeita para os momentos de viragem, de descoberta, de reencontro... E foi ao som de Sweet Jane que entrei pela noite dentro...

2004/03/08

Momentos: ...de ser Mulher... 

Um espaço em branco, sem significados padronizados...

Cada um de nós saberá o que significa Ser, Amar, Partilhar, Sentir a Mulher... Basta pensar nisso.

2004/03/07

Momentos: Carta à filha 

«Gostaria que experimentasses a vertigem radiosa de uma grande paixão, por causa do esplendor e da sabedoria do impossível, que me parece ser a pedra de toque da nossa existência. Gostaria ainda que a vida te oferecesse esse bónus de lucidez mágica que consiste em detectar o grande amor a tempo de o viver até ao fim. Neste mundo agitado e comunicante, vais conhecer tantas pessoas, vais viver no meio de tanto ruído e de tantos discursos ilusoriamente lógicos, que se te tornará muitas vezes difícil escutar o bater profundo do teu coração. Se tiveres a felicidade de descobrir a tempo esse teu grande amor, e se por acaso ele for um homem, e se decidires ter um filho, que esse filho seja dele.»

"Carta à minha filha", Inês Pedrosa, Revista Única, Expresso, 6 de Março de 2004

2004/03/06

Entre-aspas: Lendas de amar... 

«A peónia é "a rainha das flores", um símbolo de boa sorte associado às mulheres e ao amor. A lenda fala de Yang Kuei Fei, considerada a mais bela mulher da história da China e concunbina do imperador. Ela manteve-o enfeitiçado ao longo de toda a sua vida e, em sua homenagem, o imperador mantinha o quarto repleto de peónias.

Acredita-se que a peónia mantém vivos o romance e amor.»

In "O pequeno livro Feng Shui", Lillian Too

2004/03/03

Momentos: Tentações modernas... 

...para gente moderna...

«Vivendo em sociedades que funcionam a mil à hora, a primeira tentação é não parar.

(...) Muitos de nós vivemos vidas intensas, ocupados em construir carreiras, a coleccionar hobbies e a adaptarmo-nos à modernidade. Mas não é nisso que pecamos, porque no fundo, somos vítimas do nosso tempo. Pecamos, sim, por nos julgarmos auto-suficientes e por sermos incapazes de ter a humildade de pedir ajuda. Por acharmos que sabemos tudo e que não precisamos de nada nem de ninguém para nos orientar, ficando contagiados pela arrogância. Pecamos quando não dizemos a verdade e deixamos de ter referências que nos orientem, achando que somos senhores de nós mesmos. (...)

In "Tentação e Pecado", Revista "XIS", Jornal Público de 28 de Fevereiro de 2004

Entre-aspas: Alguém falou em perceber? 

«Há mais de 30 anos que estudo as mulheres e ainda me pergunto "Afinal o que é que elas querem?" (Sigmund Freud)

Pobre homem. Teria menos necessidade de recorrer à cocaína se se tivesse dedicado a descobrir o Santo Graal ou mesmo o elixir da vida. Coitado dele e de todos os outros que se lançam na mesma demanda. É que, para a missão ter algum sucesso, era preciso, para já, para já, que houvesse realmente uma verdade a desvendar. Ou seja, que as própria fizessem a mais pequena, a mais ligeiríssima, ideia do que desejam.

Teoricamente andam em busca da alma gémea. Do amor a que se podem dedicar de alma e coração, encontrando assim uma razão de ser para a sua existência. Alguém a quem mimar com os seu refogados e que reunisse as condições para ser o pai do filho que qualquer mulher deseja conceber. É bonito, mas não pega. Talvez seja mais verdadeiro afirmar que querem ser o centro das atenções, a razão de ser de alguém, ou como a minha amiga Xana tão bem resume: "Ser desejada, acima de tudo e, principalmente, de todas!" E é claro que este desejo se deve manifestar por palavras, por actos e sem omissões.»

Guia para ficar a saber ainda menos sobre as mulheres, Isabel Stilwell

2004/03/02

Filmes: Alguém tem que ceder 

Há filmes que nos fazem rir, há outros que nos fazem pensar... Outros ainda, poucos, conseguem fazer-nos pensar enquanto rimos. Acho que esse é o caso de Alguém tem que ceder. Trata-se de uma comédia romântica que conta a história de um "Don Juan" irrecuperável (Jack Nicholson) que, aos 63 anos de idade, salta de aventura em aventura, escolhendo mulheres com metade da sua idade. Mas o que ele não esperava era ter um ataque cardíaco e apaixonar-se pela mãe da sua última conquista (Diane Keaton), o que o lança numa crise existencial.

Pelo meio das gargalhadas que arranca à plateia, este filme passeia pelas convenções e modelos sociais e atira-se aos medos que as relações amorosas evocam. O medo de sofrer, o medo do compromisso, o medo de um possível abandono... Todos os medos que, tantas vezes, nos impedem de saborear em pleno o gosto do presente. É por isso que sabe bem rir com as interpretações de Jack Nicholson e de Diane Keaton, ambos extraordinariamente em forma. Sabe bem rir porque, no fundo, do que nos rimos é dos nossos próprios medos.

2004/03/01

Teatro: As obras de Shakespeare? 

Imagine uma obra que 90% das pessoas não conhece. Imagine uma companhia de teatro "reduzida" por falta de apoios... Imagine a mesma companhia, com um discurso político crítico que parecia já não existir por estas bandas... Imagine um espaço criado por Mário Viegas... Feche os olhos agora. Ouça as gargalhadas. Excessivas, tímidas, envergonhadas, forçadas, nervosas, completamente naturais, enfim... de todas as formas. Uma autêntica panóplia de um humor extraordinário e muito pouco familiar para as pessoas que sentem o riso através das piadas-tipo "frases da cintura para baixo". Se é um(a) destes(as) não vá. Se não é, não perca uma das peças de humor mais invulgar que por cá passou. Ah! E já agora, lave os dentes antes de ir... é que vão falar de si...

As Obras Completas de William Shakespeare (em 97 minutos)
Companhia Teatral do Chiado, Teatro-Estúdio Mário Viegas

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