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2005/02/21

Teatro: Foi você quem pediu um idiota? 

«Estou? Sou eu, o Pedro! Encontrei um idiota fora de série para o nosso jantar desta noite! Sim, sim... Acho que vai ser o melhor do ano! Imagina tu que o tipo se dedica a fazer miniaturas de monumentos com fósforos! Sim, fósforos!!! O gajo chama-se Francisco e trabalha nas finanças, num empregozito qualquer. E passa as noites a colar fósforos! Espera... Já te ligo, acho que é ele quem está a tocar à porta. Não, nem penses nisso! A dor nas costas continua, mas não perdia este jantar por nada deste mundo!»

Mas o Pedro perdeu mesmo o seu Jantar de Idiotas. Perdeu o jantar, mas ganhou uma noite como nunca imaginou que ia viver. Francisco revelou-se um idiota de primeira! De primeira? Não... Mais do que isso. Francisco revelou o idiota que há no Pedro e em cada um de nós. O idiota que se presta ao ridículo dos outros na falta de consciência de si próprio. Mas não há idiotice que sempre dure...

Jantar de Idiotas, no Teatro Villaret. Uma encenação de António Feio com Miguel Guilherme, António Feio, João Lagarto, Rita Lello e Helena Isabel. É uma grande idiotice faltar a este jantar!

2005/02/17

Sensações... de amadurecer 

... de impotência que revolvem o meu interior como se de uma tempestade se tratasse.

Há um caminho que nos leva a um país desfeito em promessas vãs, que afinal no seu falhanço, a consequnte frustação será igualmente partilhada por quem em tempos prometeu...

Chegamos lá. Estamos sozinhos, somos um peso na vida dos que amamos. Não sabemos pedir ajuda porque incomoda... e aprendemos a viver numa solidão que só uma janela e uma luz solar disfarçam de vez em quando.

A pressa das nossas vidas não nos ensina a partilhar, com amor, paciência. E a "minha" impotência é essa mesma. Equilibrar o egoísmo e o impôr limites de protecção da minha própria vivência. Como se só soubéssemos cuidar dos mais novos... como se nós adultos não precisássemos de cuidados... como se um dia tudo o que representa a nossa autonomia não se reduzisse à aceitação do corpo que vai quebrando...

E junto à minha tristeza de não saber amar os mais velhos, a culpa, que acompanha a esperança de um dia voltarmos a respeitar quem envelhece com condições e numa sociedade que não os ostracize mas sim os encha de mimo e muito amor.

Sensações de que esses poderemos ser nós...

2005/02/13

Filmes: Closer (ou perto demais...) 

O título é de facto curioso. Closer ou perto demais... O que quererá dizer perto demais?! Talvez signifique o tão famoso "fio da navalha" onde não há regras e a ambivalência de emoções se reduz a um movimento pendular... Talvez.

O jogo perverso. Como se o ser humano conseguisse ultrapassar a barreira do som, mas com gritos que ecoam dentro do próprio. Em sufoco.

E depois... vem o Amor. Essa emoção que tantas palavras tem merecido e que se vai transformando em novas formas. Porque sim. Porque ninguém quer assumir que amar revela um padrão. Quem nunca se sentiu fora do padrão?! E quem disse que não ser padrão está errado? E se existem limites, porque não quebrá-los? E estar perto significa perto de nós ou de outros? Sorrio enquanto assumo esta retórica...

As personagens são fascinantes. A linguagem é nua e crua. O doce numa boca que provoca sabor a fel.

E a história... essa... é a de muitos de nós. Ou de outros. Estaremos perto demais para nos perdermos de nós mesmos?

2005/02/09

Segundos... 

Busco um sinal teu em todas as outras, no brusco ondulante rio das mulheres, tranças, olhos meio submersos, pés claros que resvalam navegando na espuma.

Pablo Neruda

2005/02/05

Dança: O sapateado reinventado 

Os gajos chamam-se Tap Dogs e fui vê-los ontem à noite ao CCB. Não pensei que o sapateado pudesse ser reinventado desta forma, surpreendendo e prendendo o público ao longo de quase hora e meia de espectáculo, usando a construção e a transformação do cenário como parte do espectáculo e usando acessórios inesperados, como baterias electrónicas, rebarbadoras ou mesmo água...

O público ficou preso ao que se passava do palco, mesmo que alguns tenham optado por fugir das cadeiras nos momentos mais "chuvosos"... O que fica do espectáculo é uma sensação de ritmo, uma dança industrial que parece reinventar danças tribais de poder e agressão controlada. Fica também a energia e a entrega que os seis dançarinos nos deixaram, acompanhados por um sétimo elemento, o multi-instrumentista que os acompanhou. Se ainda conseguir ir ver, não perca!

2005/02/02

Fotografia: Castello-Lopes no Chiado 

Hora de almoço. Apanho um táxi que me deixa entre o Bairro Alto e o Chiado. Não resisto e almoço uns filetes de peixe-galo. Magníficos... Levava a máquina fotográfica comigo, coloco-lhe a objectiva de 35mm e aproveito uns minutos para captar instantes de uma Lisboa que parece de outro tempo. Candeeiros, paredes, mas sobretudo pessoas, vida... O rolo desaparece, foto após foto. Rua do Loreto, Largo de Camões, Largo do Chiado, Rua António Maria Cardoso, Travessa dos Teatros, Largo do Chiado outra vez. É nessa altura que reparo na exposição e entro. Fascinante...

Edifício da Fidelidade, no Largo do Chiado. Exposição Gérard Castello-Lopes, homenagem a Henri Cartier-Bresson. São perto de 40 fotos extraordinárias, todas a preto-e-branco e cada uma com a sua história única. São perto de 40 testemunhos de meio século, de 1957 a 2004. São um olhar único sobre momentos do quotidiano em Lisboa, Paris, Roma ou Bruxelas. São instantes decisivos, momentos de génio em que Castello-Lopes não fica a dever nada a Cartier-Bresson. Nós é que ficamos a dever. Aos dois...

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