2004/09/22
Momentos: ...do Amor

Por amor no teu corpo fui além
e vi florir a rosa em todo o ser
fui anjo e bicho e todos e ninguém.
Como Bernard de Ventadour amei
uma princesa ausente em Tripoli
amada minha onde fui escravo e rei
e vi que o longe estava todo em ti.
Beatriz e Laura e todas e só tu
rainha e puta no teu corpo nu
o mar de Itália a Líbia o belvedere.
E quanto mais te perco mais te encontro
morrendo e renascendo e sempre pronto
para em ti me encontrar e me perder.
Manuel Alegre
2004/09/21
Música: A estrada vive!

E foi à margem que Lhasa continuou a viver em Montreal. E foi à margem que ela regressou aos Estados Unidos em 1997 e 1998, mesmo com o sucesso bateu-lhe à porta ao som do primeiro disco. Coisa estranha... E o que fez ela? Partiu novamente, desta vez rumo a França, onde se juntou ao circo de duas irmãs e percorreu a Europa. E a fama, Lhasa? Que vale isso, imagino-a a responder, quanto há emoções tão mais fortes?
Mas a estrada regressa, uma e outra vez. E Lhasa voltou. Desta vez, foi a própria estrada que ganhou vida, a meio caminho entre o canto e o mais puro encanto com o próprio exílio em que vive voluntariamente. E foi assim que surgiu The Living Road, um disco que se ouve em espanhol, em francês e em inglês. Um disco que se descobre pouco a pouco. Canções que enchem sete anos de vida. E a estrada começa aqui, na minha própria porta... Para onde parte?
2004/09/20
Segundos...

Franz Kafka - Considerações
2004/09/18
Música: A tranquilidade tem uma voz...

Olho para umos meus DVDs. Há um que capta a minha atenção... Norah Jones, Live in New Orleans. Há quanto tempo não o oiço? Vou buscá-lo, coloco-o a tocar, sento-me e deixo-me envadir por aquele ambiente... Se a tranquilidade tivesse uma voz, acho que essa voz seria a de Norah Jones.
Na noite de 24 de Agosto de 2002, a tranquilidade desceu sobre New Orleans. Esta noite, desceu sobre Lisboa. Bom fim-de-semana!
2004/09/17
Entre-aspas: Porque hoje é dia de...

«A vida é uma viagem experimental, feita involuntariamente. É uma viagem do espírito através da matéria, e como é o espírito que viaja, é nele que se vive. Há, por isso, almas contemplativas que têm vivido mais intensa, mais extensa, mais tumultuariamente do que outras que têm vivido externas. O resultado é tudo. O que se sentiu foi o que se viveu. Recolhe-se tão cansado de um sonho como de um trabalho visível. Nunca se viveu tanto como quando se pensou muito.»
Bernardo Soares - Livro do Desassossego
2004/09/16
Filmes: A criação de Nathalie

O filme começa com o quotidiano das personagens interpretadas por Gerard Depardieu e Fanny Ardant. Uma festa falhada, a frieza, a distância... Uma mensagem no telemóvel revela-lhe a infidelidade dele e ela encontra Marlène num bar de alterne. Paga-lhe para ela se transformar em Nathalie e para se envolver com o marido. Com que intenção?
Intenções... A dada altura, as intenções de cada uma das personagens tornam-se confusas, contraditórias. A tensão cresce nos olhares e nas palavras. Palavras contidas, com bastante espaço para o silêncio. O filme alonga-se e desenha uma conclusão que se antecipa. No final, duas pessoas, de mãos dadas, passeiam junto ao rio. É a isso, afinal, que tudo se resume?
2004/09/15
Segundos...

salvar-te-á. Se não exteriorizares aquilo que está dentro de ti, aquilo que não
exteriorizares destruir-te-á.
Evangelho de Tomé
2004/09/14
Momentos: Conselho

Renuncia!
Sou eu, também poeta, que to digo.
Nenhum verso se deixa encarcerar.
Prender água nas mãos é um jogo antigo,
Que aumenta a sede, em vez de a mitigar.
Temos
O que perdemos
Dia a dia.
O sol da poesia
É lua, em nós.
Sai-nos do peito um canto comovido,
E ouvimos, como um eco arrefecido,
O som da própria voz.
Miguel Torga, Câmara Ardente
2004/09/13
Música: Sons que pairam na memória

E isto tudo vem a propósito do quê? De um disco chamado Omertà, assinado pelos The Belles. E vem a propósito porque foi este o tipo de som, tão difícil de definir, que encontrei neste CD que nasceu, como manda a tradição, de uma conversa de bar.
Diz a história oficial dos The Belles que os seus dois fundadores começaram a falar sobre música num bar em Lawrence, no Kansas. Mesmo que não tenha sido assim, uma conversa casual num bar dá sempre mais piada à história de uma banda, não é? E parece que estavam os dois fartos de projectos musicais de curta duração e queriam alguma coisa "mais permanente"... Um contrato com uma editora, a Lakeshore, deu-lhes essa oportunidade, de duo passaram a trio e assim nasceu Omertà. Ainda bem. Eu fiquei rendido ao disco logo na primeira faixa...
2004/09/10
Segundos...

Franz Kakfa
2004/09/08
Entre-aspas: Só a ilusão se perde...

importante se perde verdadeiramente.
Apenas nos iludimos, julgando ser donos
das coisas, dos instantes e dos outros.
Comigo caminham todos os mortos que
amei, todos os amigos que se afastaram,
todos os dias felizes que se apagaram.
Não perdi nada, apenas a ilusão de
que tudo podia ser meu para sempre.»
Miguel Sousa Tavares
2004/09/06
Livros: Um caso delicado!

É essa a magia que Florença exerce sobre quem a conhece, é essa magia que faz com que cada visitante queria voltar lá uma e outra vez. Nunca será excessivo o tempo que se passa nas suas ruas nem será suficiente para desvendar os seus segredos. São esses segredos triviais que David Leavitt procura no livro com que a Asa resolveu abrir uma nova colecção, O Escritor e a Cidade. Florença, um caso delicado. Haverá palavras para tanto fascínio?
2004/09/02
Música: Tranquilidade e jazz...

Descubram a sua história de vida, e partilhem o percurso que o transportou para este lado ocidental. No final do seu album, onde podemos saborear as letras que ele próprio escreveu, termina e despede-se com um simples: Peace, Bona.
2004/09/01
Entre-aspas: Há valores absolutos?

«Acarinhamos a reprovação pública do crime ou, dizendo de outra forma, a vingança pública sobre o criminoso, por causa da sanção emocional que dá a uma comunidade ordenada por uma lei comum. Esquecemos o facto de não podermos manter essa atitude emocional sem marcarmos o criminoso como um excluído da sociedade, ou seja, sem preservarmos num certo sentido uma classe ou uma casta criminosa. E estamos muito pouco inclinados para estimarmos o valor dessa exclusão simplesmente de acordo com o seu poder preventivo porque parece ter um valor absoluto demasiado precioso para ser negado. (...) Ou vejamos o nacionalismo. O valor de culto do patriotismo impede-nos de eliminar a guerra. O método mais simples e mais usado de despertar uma consciência de unidade nacional é apresentar um inimigo comum. É muito mais difícil, se não for impossível, despertar essa consciência a partir da vida comum da própria comunidade. E há alturas em que o patriotistimo parece ter um valor infinito. Nesse sentido, os valores de culto são incomensuráveis, tão grandes que não se conseguem medir. (...) Mas não há valores absolutos. Há apenas valores que podem ser estimados quando os outros valores envolvidos são reconhecidos. E só há um momento em que isso pode ser feito, o momento em que nos defrontamos com um problema real.»
É por isso que acho que é demasiado fácil pensar na "defesa da vida" como um valor absoluto e inquestionável. O que é difícil é reconhecer que há outros valores envolvidos e fazer uma escolha ética quando a defesa de uma vida se opõe à defesa de outra vida. É fácil ver o mundo a preto e branco, dividido entre o bom e o mau e esquecer todos os graus de cinzento e todas as outras cores. Esquecer que o facto do aborto ser crime para proteger o valor abstracto da vida provoca na realidade a morte de tantas mulheres que recorrem ao aborto ilegal. É até demasiado fácil dividir a questão entre quem é a favor ou contra o aborto, como isso fosse o que está em causa. É muito mais difícil discutir a verdadeira questão, que é quem admite que deixe de ser crime que a gravidez possa ser interrompida nas primeiras semanas e quem não o admite. Eu admito-o.
PS: Desde ontem à noite que o Bisturi não está disponível. Não sei se é um problema técnico ou se o Rui (do Bisturi) tirou o blog do ar por causa da polémica que aquele post despertou. Seja qual for a razão, Rui, espero que restaures o Bisturi depressa. Gostava de continuar a ler o teu blog, mesmo quando a minha opinião é diferente da tua. Um abraço para ti.