2004/04/29
Segundos...

Fernando Pessoa
2004/04/28
Momentos: ...de encontrar e perder...

conheço tão bem o teu corpo, sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar que te atravessou a cintura
tanto
tão perto
tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
"Poema" Mário Cesariny
2004/04/27
Livros: Especulações?

A Gradiva publicou há pouco tempo Mais Rápido que a Luz, um livro de João Magueijo que coloca ao alcance dos que não são especialistas os enigmas e os erros que Einstein nos deixou. Mais do que isso, Magueijo partilha connosco a "biografia" da sua especulação científica que procura contribuir para preencher essas lacunas. E essa especulação parte de uma pergunta aparentemente inocente mas que põe em causa quase toda a física moderna: e se a velocidade da luz não for constante?
João Magueijo é português, nasceu em Évora há trinta e poucos anos, é professor de Física Teórica no Imperial College de Londres e pode ficar na história da ciência como o homem que resolveu o erro de Einstein. Ou talvez não... Porque este livro é sobretudo uma viagem à ciência real, àquela que se alimenta dos erros e das ousadias. Uma ciência que vive de especulações e de ideias imperfeitas. Uma ciência profundamente humana:
«Normalmente, designa-se por especulação algo com que não se concorda, pelo que se poderia pensar que a especulação não tem qualquer papel a desempenhar em ciência. Na verdade, dá-se exactamente o contrário. Em física teórica, e especiamente no meu ramo, a cosmologia, passamos a maior parte do tempo a tentar descobrir falhas nas teorias que já existem, bem como a analisar novas teorias especulativas que porventura permitam descrever tão bem ou melhor que as anteriores os dados experimentais. Pagam-nos para duvidar de tudo o que outros propuseram antes, para propormos nós próprios alternativas ousadas e para discutirmos interminavelmente entre nós.» Fascinante...
2004/04/26
Teatro: O Mocho e a Gatinha

O Mocho e a Gatinha, de Bill Manhoff, em cena no Teatro-Estúdio Mário Viegas pela Companhia Teatral do Chiado. Encenação de Juvenal Garcês e interpretação de Simão Rubim e Vanessa Agapito.
2004/04/25
Momentos: ...de Abril

e com ele a luz:
de cada trilo seu
nasce a água.
E entre a água e a luz que o ar desata
está a Primavera inaugurada já,
sabe a semente que já cresceu,
na corola desenha-se a raiz,
abrem-se por fim as pálpebras do pólen.
Tudo isto fez um simples pássaro
no alto dum verde ramo.
Pablo Neruda, Plenos Poderes
2004/04/23
Segundos...

Eugénio de Andrade
2004/04/21
Entre-aspas: A forma como desejamos

«Se a meta do apetite fosse permissível e consumável, a satisfação do apetite causaria a emoção de alegria e faria com que o sentimento de desejo desse lugar aos sentimentos de prazer e exultação. Se por um lado, o atingir da meta fosse impedido, o sentimento final seria o de frustração, zanga ou cólera. No caso do processo ficar suspenso durante algum tempo, na região deliciosa dos sonhos acordados, tudo acabaria em calma. (...) Será possível que a fome e a sede sejam assim tão diferentes do desejo sexual? Mais simples, sem dúvida, mas não realmente diferentes em matéria de mecanismo. essa é certamente, a razão porque fome, sede e desejo sexual se podem misturar tão facilmente, e por vezes compensar-se mutuamente. (...) Seja como for, o objecto do desejo e as memórias pessoais que dizem respeito a esse objecto interagem mútua e abundantemente. As ocasiões passadas de desejo, as nossas aspirações passadas, os nossos prazeres passados, reais ou imaginários, todos eles contribuem para que o desejo se projecte de forma particular na nossa mente.»
In Ao Encontro de Espinosa, António Damásio
2004/04/20
Momentos: Trinta anos depois

se puderem vai a cedilha e o til
trinta anos depois alguém que berre
r de revolução r de Abril
r até de porra r vezes dois
r de renascer trinta anos depois
Trinta anos depois ainda nos resta
da liberdade o l mas qualquer dia
democracia fica sem o d.
Alguém que faça um f para a festa
alguém que venha perguntar porquê
e traga um grande p de poesia.
Trinta anos depois a vida é tua
agarra as letras todas e com elas
escreve a palavra amor (onde somos sempre dois)
escreve a palavra amor em cada rua
e então verás de novo as caravelas
a passar por aqui: trinta anos depois.
Manuel Alegre
2004/04/18
Livros: Antologia do esquecimento

Esta história não foi assim... conheci o Henrique em primeiro lugar e, horas depois, timidamente (a pedido de um "bisturi" diplomata...), ofereceu-nos o seu livro.
Há diferenças substanciais porque, enquanto se lê, vamos gradualmente buscar as imagens, a voz, o olhar da pessoa por detrás das palavras. Quem ainda não o conhece, não hesite.
Antologia do esquecimento, onde é possível dizer «dá-me um pouco do teu sonho para poder sonhar-me em alma».
2004/04/16
Segundos...

Sarah Kane
2004/04/15
Música: As oito estações

Confesso que olhei com desconfiança para este disco. A ideia pareceu-me mesmo bizarra, mas o som seduziu-me rapidamente. O contraste de sonoridades e sensações transportou-me entre os salões da Europa do século XVIII e as ruas de um século XX numa Buenos Aires que nunca conheci. Coloquei este disco a tocar esta tarde... Há quanto tempo é que não tirava a potência toda que este amplificador e estas colunas têm para dar? Há tempo suficiente para saborear hoje como se fosse a primeira vez cada ataque do arco sobre as cordas do violino, cada subtileza do som em que a Kremerata Baltica transformou as partituras de Piazzolla e de Vivaldi. Diz Kremer que "o globo tem dois hemisférios, o que duplica as estações e nos permite encontrar o calor em qualquer altura do ano". Basta, acrescenta ele, "estar aberto e ser capaz de amar".
2004/04/14
Entre-aspas: A loucura dos "sãos"

Conhece alguém assim?!
in A Loucura da Normalidade, Arno Gruen
Música: O Pássaro

A Verve pôs Charlie Parker ao nosso alcance numa caixa de 3 CDs, que dá pelo nome The Complete Verve Master Takes. É sublime a descoberta que os nossos ouvidos fazem ao longo destas horas de música. Parker tocou música de toda a gente e toda a gente quis ser tocada por ele. O livro que acompanha esta edição é bonito por fora e por dentro. O que lá está escrito é lindo e os olhos deliciam-se com as ilustrações.
Todos cabiam debaixo das asas de Parker que, como poucos, marcou a história do Jazz. O corpo não aguentou a velocidade da alma. A heroína fez o resto. Quando morreu, com 34 anos, o relatório da autópsia dizia que o corpo aparentava ser de um homem de 64. Mas há uma coisa que não posso esquecer. Sempre que ouço um saxofone, a primeira imagem que me ocorre é de Charlie Parker, the Bird.
2004/04/13
Livros: Liberte a doninha que há em si!

Scott Adams
Eu pensava que o engenho humano nunca chegaria ao verdadeiro nirvana da gestão. Pensava eu que isso seria inatingível, que haveria sempre qualquer coisa acerca da forma como as pessoas trabalham em conjunto que seria impossível de expressar e até mesmo de compreender. Hoje tenho que reconhecer humildemente que me enganei. Eu vi a luz, meu irmão! E a luz está mesmo aqui ao lado, ao alcance de um braço, tão perto como um livro sobre a mesa. Isto é verdade, até porque se trata mesmo de um livro que, por acaso, estava mesmo em cima da mesa.
Mas não vale a pena prolongar a espera (até porque toda a gente já viu a capa do livro aqui estampada ao lado!). Scott Adams, o criador genial do Dilbert, completou a sua teoria com o The Way of the Weasel. A argumentação é simples e objectiva. Depois de afirmar que "qualquer chimpanzé treinado consegue beber uma grade de cervejas e ainda assim desempenhar a maior parte das tarefas de gestão", Adams atira-nos agora com uma sabedoria ainda mais profunda: "as pessoas são doninhas". Isso mesmo. Assim, sem discussão nem justificações teóricas da treta. Doninhas!
Mostrando mais uma vez a sua honestidade intelectual, o iluminado autor explica-nos logo nas primeiras paginas que sabe que toda a gente já percebeu o que é que ele quer dizer mas que, mesmo assim, tem que fazer render o peixe por mais umas centenas de páginas. Um livro de seis páginas não ia vender lá muito... A malta compreende e até agradece. É que assim temos a oportunidade de aprender a sério como nos podemos divertir no trabalho, como se motiva uma doninha e até (imagine-se!) que as doninhas vêm de Vénus! Este livro é uma revelação. Depois de o ler, ir trabalhar nunca mais será igual...
2004/04/11
Música: Redescobrir Morricone

Enrico Pieranunzi é um pianista de excepção. Italiano, toca desde os cinco anos e é profissional desde os 19, bebendo as suas influências dos trabalhos de Bill Evans e McCoy Tyner. Marc Johnson ganhou a sua reputação como contrabaixista ao integrar a última formação do trio de Bill Evans, mas tocou também com Stan Getz, Bill Frisel e John Scofield, entre outros nomes grandes do jazz. Joey Baron é um baterista com um currículo igualmente impressionante. Os seus ritmos acompanharam as melodias de Dizzy Gillespie, Stan Getz ou Al Jarreau.
Foram estes três músicos que se lançaram à aventura de recriarem em conjunto as partituras de Morricone. O resultado não podia ser melhor. O próprio Ennio Morricone disse que se sentiu "surpreendido, admirado e eufórico" quando ouviu este disco pela primeira vez, no qual sentiu o seu trabalho redescoberto e respeitado. Pouco se pode acrescentar, excepto que parece que esta banda sonora foi escrita de propósito para esta tarde de sol meio encoberto...
2004/04/09
Filmes: Um filme brilhante

A forma como o filme está construído leva-nos pela vida de John Nash, um matemático brilhante que se fechava sobre si próprio com a desculpa de que não gostava de pessoas e que as pessoas não gostavam dele. Acabou por encontrar o que mais desejava, uma ideia original que revolucionou a economia moderna e, sem saber muito bem como, encontrou uma pessoa que se tornou mais importante ainda, Alicia, com quem casou. E não posso dizer muito mais sem estragar a experiência de quem ainda não viu o filme (ou era eu o único?). Ainda assim, tenho que dizer que, quando se descobre a esquizofrenia de Nash, eu próprio já não sabia o que era "real" e o que não era. Um filme brilhante.
2004/04/08
Segundos...

Bernardo Soares
2004/04/07
Livros: Porto escondido

A cabeça perdida de Damasceno Monteiro, António Tabucchi, Publicações Dom Quixote, 1997
2004/04/06
Música: Cartas tranquilas...

Deixo-vos uma das frases escritas na capa deste álbum, que podemos folhear levemente quase como se de um "mini-livro" se tratasse.
«...only change can happen when you change yourself...» (breathe)
Bliss are marc-george andersen, steffen aaskoven, alexandra hamnede&tchando
2004/04/05
Teatro: Vagabundos?

Vagabundos de nós está em cena no Teatro Municipal Maria Matos. O texto é de Daniel Sampaio (notável), a encenação é de Luís Osório (simples e tocante) e a interpretação de Márcia Breia e Nuno Lopes (ambos extraordinários).
2004/04/04
Segundos...

Franz Kafka
2004/04/02
Segundos...

Alexandre O'Neill
2004/04/01
Filmes: 21 gramas

21 gramas: realizado por Alejandro González Iñárritu, com Benicio Del Toro, Naomi Watts e Sean Penn.