2004/01/30
Momentos: A naturalidade...

In "O Incesto", Mário de Sá Carneiro
2004/01/29
Música: A senhora com voz de sereia

The Look of Love foi o disco dela que mais me acompanhou. E é um disco fascinante. Editado em 2001, marcou o topo da carreira de Diana Krall, valendo-lhe os prémios Juno de artista do ano, álbum do ano e melhor cantora de jazz. Com músicas como "Cry me a river", não é difícil perceber o porquê de tantos prémios... E apetece-me ficar grato pelas circunstâncias que a levaram a aprender a tocar piano desde os 4 anos de idade e a mergulhar desde muito cedo na imensa colecção de discos de jazz do pai. E, apesar da relutância dos mais puristas, que bom que é que esta senhora chegue a um público cada vez maior.
2004/01/28
Entre-aspas: Sons graves de contrabaixo

«É por isso que eu digo que a orquestra é uma imagem da sociedade humana. Pois, tanto aqui na orquestra como na sociedade, aqueles que, além do mais, já executam tarefas degradantes são ainda por cima, por esse facto, desprezados pelos outros.»
In "O Contrabaixo", Patrick Süskind
2004/01/27
Livros: Jota Cristo

Livros: Afirma Pereira!

Li este livro uns anos depois de ter visto o filme de Roberto Faenza, realizado em 1995. Não calhou ser ao contrário e ainda bem, porque assim Pereira terá sempre no meu imaginário a cara de Marcelo Mastroianni. E se o filme me deixou uma marca forte, mais o livro a aprofundou. A beleza trágica do despertar de uma consciência adormecida e o ritmo narrativo enganadoramente plácido, entranham no leitor o calor abafado e sufocante do Verão de 1938. Foi nesse Verão que Pereira conheceu Monteiro Rossi, um encontro aparentemente sem importância e que, sobretudo, não fazia adivinhar nada do que se seguiria. Descubra o quê.
2004/01/21
Lugares: Boavista, Cabo Verde

Imaginem um lugar onde os sorrisos são sempre abertos, cativantes ainda tímidos para o olhar de quem acaba de chegar. Imaginem a musica local em noites quentes (quentes para nós, porque quem cá vive acha-as noites frias de Inverno). Imaginem uma costa de areia fina, quase branca, que se estendem ao longo de quilómetros. Imaginem uma pequena ilha com um deserto tórrido no centro. Imaginem pessoas amáveis que sorriem enquanto estendem a mão para cumprimentar e dizem "bom dia!"
Imaginem isto tudo e atrevam-se.
Cabo Verde, Ilha da Boavista
2004/01/16
Entre-aspas: O prazer

in "O Sentimento de Si", António Damásio
2004/01/14
Livros: Era uma vez uma mosca...

2004/01/13
Momentos: Intensos.

«O filho que não te fiz vem de noite beijar-me e chamar-me papá.»
In "o medo das palavras e as mãos sempre ao meio" - a. j. valverde
Música: Leonard Cohen

Música: Já foi - Maria Rita

Entre as músicas, bastante conversa. Dizia a cantora ao rever uma das entrevistas da mãe (Elis Regina) que esta, quando questionada sobre o que queria para a filha, respondeu que aquilo que era bom para ela não seria necessariamente bom para a filha. Na parte que me diz respeito, a senhora enganou-se. Para o bem de todos.
2004/01/11
Entre-aspas: O Barco...

«Toda aquela cidade... Não se lhe via o fim... O fim, por favor, podia ver-se o fim? [...] Não foi o que vi que me deteve, foi o que não vi. Consegues perceber, irmão? Foi o que não vi... Procurei-o mas não estava lá, naquela cidade interminável havia tudo, mas não havia um fim. O que não vi foi onde acabava aquilo tudo. O fim do mundo. Ora pensa bem: um piano. As teclas começam. As teclas acabam. Tu sabes que são 88, quanto a isso ninguém pode lixar-te. Elas não são infinitas. Tu é que és infinito, e dentro daquelas teclas, é infinita a música que podes fazer. Elas são 88. Tu és infinito. Disto gosto eu. Isto pode-se viver. Mas se eu subir àquela escada, e à minha frente se desenrolar um teclado de milhões e milhões de teclas, milhões e biliões de teclas, que nunca mais acabam, e esta é a verdade verdadinha, que nunca mais acabam e que aquele teclado é infinito. Então, naquele teclado não há música que possas tocar. Estás sentado num banquinho errado: aquele é o piano em que toca Deus.
Cristo, mas não vias as ruas? Até as ruas eram aos milhares, como conseguem vocês lá escolher uma? Ou escolher uma mulher, uma casa, uma terra que seja a vossa, uma paisagem para admirar, um modo de morrer? Todo aquele mundo, aquele mundo em cima de ti e tu nem sequer sabes onde é que acaba. E que tamanho tem! Nunca têm medo, vocês, de acabarem desfeitos em mil bocados só de pensá-la, essa enormidade, só de pensá-la? De vivê-la...
Eu nasci neste barco. E por aqui o mundo passava, mas às duas mil pessoas de cada vez. E desejos aqui também os havia, mas não mais dos que podiam caber entre uma proa e uma ré. Tocavas a tua felicidade num teclado que não era infinito. Eu aprendi assim. A terra, é um barco demasiado grande para mim. É uma viagem demasiado longa. É uma mulher demasiado bela. É um perfume demasiado forte. É uma música que não sei tocar. Perdoem-me. Mas eu daqui não saio. Deixem-me voltar atrás.»
in "Novecentos", Alessandro Baricco
2004/01/10
Momentos: Não vou por aí!!

Deus e o diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principío nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga : «vem por aqui»!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei por onde vou,
- Sei que não vou por aí!
"Cântico Negro" - José Régio
2004/01/09
Música: Maria Rita

E Maria Rita veio visitar-nos. Hoje e amanhã, no Coliseu de Lisboa, vamos poder ouvir ao vivo a sua voz emotiva e verificar se tem, de facto, a mesma entrega em palco que a mãe. Estou muito curioso. Será tão bom como se imagina?
2004/01/08
Livros: Carta ao pai...

«Concretamente só me lembro de um incidente ocorrido durante os meus primeiros anos de vida. Talvez também te lembres dele. Houve uma vez que passei a noite a choramingar e a pedir água, certamente não por ter sede, mas provavelmente para chatear, por um lado, e para me entreter, por outro. Depois de não terem surtido efeito as ameaças vigorosas, tiraste-me da cama, levaste-me para a varanda e deixaste-me por uns momentos sozinho em frente à porta fechada, na minha camisa de noite. Não quero dizer que agiste mal, talvez não tivesse sido possível dormires descansado de outra forma, o que eu quero é caracterizar o efeito produzido pelos teus métodos de educação sobre mim. É verdade que depois deste episódio me portei bem, mas fiquei ferido por dentro. Na minha maneira de ser nunca consegui ligar aquele pedir água sem sentido, que para mim era um gesto evidente, com o enorme terror de ser levado lá para fora.»
In "Carta ao pai" de Franz Kafka
2004/01/07
Momentos: Bernardo Soares

A arte tem valia porque nos tira de aqui.
Trecho 361, Livro do Desassossego
2004/01/06
Entre-aspas: História exemplar

- Tire o chapéu - disse o Senhor Director.
Tirei o chapéu.
- Sente-se - determinou o Senhor Director.
Sentei-me.
- O que deseja? - investigou o Senhor Director.
Levantei-me, pus o chapéu e dei duas latadas no Senhor Director.
Saí.»
Contos do Gin-Tonic, Mário-Henrique Leiria
2004/01/05
Música: O décimo-terceiro passo

Conheci esta banda invulgar através do seu segundo disco, Thirteenth Step. O CD saiu há uns meses e comprei-o depois de ler uma crítica muito positiva nas páginas do Blitz. O som da banda cativou-me pela forma como conjuga guitarras poderosas com letras e melodias que se enquadram na melhor tradição do rock alternativo americano. Liderados pela voz de Maynard James Keenan (dos Tool), os A Perfect Circle integram ainda o baixista Jeordie Orborne White (ex-Marilyn Manson), o guitarrista James Iha (ex-Smashing Pumpkins), o baterista Josh Freeze e Billy Howerdel que, para além da sua guitarra, empresta também a sua voz à música do grupo.
Se ao vivo souberem dar vida ao som deste álbum, então não é difícil imaginar que dia 20 teremos concerto! Recomendado.
2004/01/03
Momentos: Mário Cesariny
Entre-aspas: O teatro da mente?

«A consciência tem de estar presente para que os sentimentos possam influenciar o sujeito que os tem, para além do aqui e do imediato. (...) Durante o processo evolutivo, a emoção surgiu, provavelmente, antes do despertar da consciência, e aparece em cada um de nós como resultado de indutores que nem sempre reconhecemos conscientemente. Por outro lado, é no teatro da mente consciente que os sentimentos produzem os seus efeitos mais importantes e duradouros.»
O Sentimento de Si, António Damásio
2004/01/02
Música: Tons de prazer

É esta alquimia que me conduz neste início de tarde. A voz de Lyambiko, o sol que entra pela janela e o novo ano que agora começa... Tons de prazer que vale a pena descobrir, ouvindo este disco com a disponibilidade reencontrada de quem tem uma peça rara nas mãos que vale a pena saborear. Ternamente...
Uma última palavra para o trio que a acompanha, o pianista Marque Lowenthal, o contrabaixista Robin Draganic e o baterista Torsten Zwingenberger. Estão irrepreensíveis!
2004/01/01
Momentos: Ricardo Reis

Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és no mínimo que fazes.
Assim, em cada lago a lua toda brilha, porque alta vive.
14.02.1933