2003/12/30
Livros: Pelas ruínas de Babel

Como no resto da série da Pior Banda do Mundo, cada história deste volume resume-se a duas páginas. E é em duas paginas apenas que somos confrontados com as atracções do Parque de Perversões Mengel, que conhecemos o Desporto Nacional (dar palpites do que não se sabe) ou a forma como um Bloqueio Metafórico impede a demonstração de uma máquina de fazer versos automaticamente... Mas não vos vou estragar a descoberta. Se tiverem oportunidade, folheiem um destes livros quando forem a uma livraria. Das duas uma: ou ficam seduzidos pelo tipo de humor e de escrita e compram logo os livros todos ou não gostam de todo. Eu cá aposto mais na primeira hipótese...
2003/12/28
Livros: Ficas comigo?

Não foi há muito tempo. Estava deitado e tinha este livro ao lado, emprestado. O livro tinha-me sido recomendado por quem me costuma conhecer melhor do que eu próprio... Mesmo assim, peguei-lhe com desconfiança. Seria mais um daqueles livros de ler-e-deitar-fora? Nunca tinha lido nada da Inês Pedrosa e estava de pé atrás. Mas segui em frente. Olhei para o título do primeiro conto. "Só sexo". Só sexo??? Adiante... E durante as sete páginas que o conto dura sustive a respiração. Assim que o acabei de ler fechei o livro, num misto de assombro e alívio.
Este Natal comprei dois para oferecer. Decidi hoje que só vou dar um. O outro é para mim. Apetece-me perguntar, ficas comigo? Só por esta noite... Só para passar estas horas de escuridão em que fico sózinho comigo próprio. Tenho medo do escuro? Não. Só da solidão...
2003/12/27
Livros: O Fotógrafo de Kafka?

Dizer que mais? Descubram e divirtam-se! Num olhar para nós mesmos e para os outros aqui ao lado. ;-)
2003/12/26
Livros: As brumas de Tarróbriga

Neste ano em que cumpriu 60 anos de idade, João Aguiar regressou ao romance histórico com Uma Deusa na Bruma e ao tempo de Viriato que já tinha percorrido n'A Voz dos Deuses. Desta vez, a história passa-se longe do calor da resistência à ocupação romana, passa-se no norte, na Cividade de Terroso, à qual Aguiar chama Tarróbriga. E é nesse cenário do Século II antes de Cristo que conhecemos Túrio, uma criança invulgar tocada por um dom que é também uma maldição. Por entre as brumas de uma civilização que, sem o esperar, vive os seus últimos anos, somos levados a percorrer os caminhos de um tempo remoto mas que ganha vida através da mãos inspiradas do escritor.
Um nota negativa, contudo, para a editora. Em vez das magníficas capas rígidas a que nos habituou ao longo dos anos, a ASA resolveu adoptar capas moles e frágeis para as suas edições... A encadernação fazia parte dos encantos dos seus livros e é pena que a editora tenha decidido abdicar desse atractivo.
2003/12/19
Filmes: E o rei regressou...

Está tudo certo nesta conclusão da trilogia. O aparato visual é de tirar a respiração, a música de Howard Shore contribui fortemente para o ambiente épico e a forma como a história é contada prendeu-me à cadeira sem um bocejo durante as 3 horas e 20 que o filme durou. Mesmo nos aspectos em que Jackson diverge do original (por exemplo, Saruman fica preso em Isengard e o Shire não é flagelado), essas opções não prejudicam a integridade da narrativa mesmo para alguém que, como eu, já leu o livro três vezes... Aliás, esse é o ponto forte desta produção, a forma como nos conduz ao longo de uma narrativa fascinante sem nos perder. Agora resta-me esperar mais um ano para comprar a "edição especial" em DVD...
2003/12/18
Música: Quanto mais ouço...

Aproveito para deixar outra sugestão relacionada com este homem. Há um ano (mais ou menos), a Valentim de Carvalho recuperou dos seus arquivos um serão em casa de Amália Rodrigues em que estão presentes em enorme tertúlia vários vultos da culttura de então ( Amália, Vinicius, Ary dos Santos, Natália Correia). A sugestão é clara: vão lá ver.
2003/12/14
Livros: Dispersos... de um observador

"Parece haver gente que vive de não resolver problemas ou que tem o maior gosto em não sair dos círculos de giz que traçou a si próprio; provavelmente os verdadeiros homens são todos de acção (...); e os que ficam rodando e rodando, incapazes do rápido e decidido esforço que lhe removeria barreiras ou do propósito de viver como se nada mais houvesse para fazer, e porventura é o ócio o que realmente move na acção, esses são apenas esboços de homem, o mole material que ficou a meio caminho de dar o rijo bronze das estátuas."
In Dispersos, Agostinho da Silva, ICALP, Paulo Esteves Borges
2003/12/12
Música: O melhor álbum do ano?

Mas a história deste disco é daquelas que vale a pena conhecer. Os anos 60 estavam a chegar ao fim e, com eles, os Beatles aproximavam-se de uma separação litigiosa em torno das crescentes divergências entre os dois génios do grupo, John Lennon e Paul McCartney. Como uma das últimas tentativas para recuperarem a simplicidade e descontracção de outros tempos, resolveram gravar como documentário varias sessões de gravação que culminaram no seu último espectáculo ao vivo, meio improvisado, no telhado da Apple. Dessas sessões resultaram 33 bobinas nas quais ninguém quis pegar logo a seguir e que só foram editadas em 1970 com o título Let It Be, acabando por ser o último disco do grupo.
O problema é que a editora tinha decidido entregar as bobinas a Phil Spector, para que ele assegurasse a produção do disco. E Phil Spector, conhecido pela sua Wall of Sound, encheu as canções com coros delicodoces e arranjos com metais e cordas. O resultado desagradou desde o primeiro instante a Paul McCartney (horrorizado, sobretudo, pelo "assassínio" da sua 'The Long and Winding Road') e este, agora, resolveu acertar contas com a história. E é isso que Let It Be... Naked é. A versão limpa do antigo Let It Be, tal como McCartney gostava que tivesse soado. Ontem à noite diverti-me a comparar, faixa a faixa, o original com a nova versão e, os nostálgicos que me perdoem, prefiro largamente o novo disco. O melhor disco do ano, afinal, parece que foi gravado há 35 anos...
2003/12/10
Livros: Os segredos das igrejas abandonadas

Enquanto percorria as estantes à procura desse livro fui passando os dedos por outros volumes. Parei junto a um conjunto de livros de pequeno formato da Assírio & Alvim, a colecção Gato Maltez. Sempre gostei destes pequenos livros e, aliás, não foi há muito tempo que escrevi aqui sobre um deles, o Diário de um louco, do Nikolai Gógol.
Não foi o primeiro nem o segundo volume em que peguei mas foi aquele que levei comigo para casa: O Livro das Igrejas Abandonadas. Não conhecia nada sobre este livro nem sobre o autor, mas folheando-o apeteceu-me lê-lo. Descobri depois que o autor, Tonino Guerra, é um notável argumentista de cinema que trabalhou com realizadores como Fellini, Antonioni ou Tarkovski. Cheguei a casa, sentei-me e comecei a ler. Passei por todas as pequenas histórias, saboreando-as como se fossem pequenas aguarelas desenhadas pelo traço solto de um artista experiente. Afinal, tanto que há a dizer sobre duas dúzias de igrejas abandonadas...
2003/12/08
Ballet: O flamenco de Sara Baras

Nascida em Cádiz, recebeu este ano o Prémio Nacional de Dança de Espanha. Amor, liberdade e sonhos, é como se define o programa que nos vem apresentar, que se intitula "Mariana Pineda", baseada numa obra de Frederico Garcia Lorca. Para mim é suficiente. Para quem ficar com dúvidas, passe por estas bandas.
2003/12/04
Música: A vingança do Tango

Este ano a carreira internacional dos Gotan Project recebeu um novo impulso quando receberam o Prémio Revelação nos World Music Awards da BBC, por isso não se espera nada menos do entrega total no concerto de amanhã à noite. Os Gotan começam esta noite a sua passagem por Portugal com um concerto em Braga e despedem-se do público português no sábado à noite no Porto. Parece que os três concertos estão quase esgotados, mas talvez ainda vá a tempo...
2003/12/03
Teatro: Arte? Arte!

Este fragmento é uma boa descrição da obra de arte que serve de pretexto para pôr a nu a fragilidade da amizade entre três homens na peça Arte de Yazmina Reza. Com a interpretação de António Feio, José Pedro Gomes e Miguel Guilherme, esta peça está agora de regresso ao Teatro Villaret, em Lisboa, depois de ter feito sucesso com o mesmo elenco há cinco anos.
Eu não vi a representação original, por isso não posso comparar as duas. Mas gostei do que vi há poucos dias. Não pela comédia (o riso às vezes sai demasiado fácil, quase forçado...), mas sim pela forma como a peça explora a redescoberta da amizade entre os três personagens que passa de fachada a ruptura, depois de conflito a reconstrução. O quadro branco só é isso mesmo, uma tela para projectarmos o que quisermos...
2003/12/02
Música: Talento...

Já respirava música desde criança, pois essa era a profissão quer do pai quer da mãe. Durante a sua carreira como modelo, uma guitarra acompanhava-a frequentemente nas viagens. E talvez seja essa guitarra que acompanha hoje a sua voz doce. Este ano editou o seu primeiro disco. Quelqu'un m'a dit é um conjunto de 12 canções e só uma não foi escrita por ela. É verdade, não revoluciona a história da música popular, mas fascina, cativa, apetece ouvir... Tal como a estou a ouvir agora, ao fim do dia, em casa, enquanto o ar aquece.
2003/12/01
Livros: Traídos pelo próprio... "EU"?

In "A traição do EU", Arno Gruen
Com todas as dúvidas baseadas na resistência em olhar um pouco mais para o "nosso próprio umbigo", este é um livro provocador. Para mim, naturalmente. Um amigo dizia-me este fim-de-semana que afinal nós (!) até não estamos muito gravemente afectados... «Senão repara: quantos conheces a correr velozmente atrás de um poder, abdicando deles mesmos, sem conseguirem sequer entender que os ténis que levam calçados são de ginástica desportiva e não de "endurance"?!» Bom... seja lá o que isso for, reconheço que corro muito. E de autonomias, só se considerarmos o cronómetro dentro de nós. Traídos por nós mesmos ou nem por isso, confesso que começo a preferir praticar "passada lenta"...