2003/09/30
Musica: ...with you...

Em tons de Outono, entreguem-se à companhia de "The Melody At Nigth with you".. Para quem já conhece a força de KJ, talvez se surpreenda. Não que essa força se tenha dissipado, antes sim transformado. Nada mais digo a não ser o que o próprio escreve:
"(...) who heard the music, then gave it back to me".
Se estiverem para isso (!) descubram o que tanto lhe foi devolvido, procurando sentir a transformação. Afinal transformar é isso mesmo. With you...
2003/09/26
Livros: O Amor I
E de repente, surgindo do nada, aparece-me O Amor nos Tempos de Cólera, novamente do Gabo. Lembro-me sempre deste livro no fim destas listas mentais, e no entanto, é o mais visível da estante, aquele onde caem sempre os meus olhos quando me sinto perdido e a precisar de palavras de consolo. A epopeia de Florentino Ariza e Fermina Daza magoa e alegra. É daquelas histórias em que acreditamos sem reservas. O amor eterno de dois amantes que sem o serem esperam até à velhice do conforto para quebrar regras e finalmente unirem os corpos, que as almas, soubessem eles ou não, já estavam unidas. E precisamos tanto de ler estas coisas... Precisamos tanto de esperança? Ou não?
2003/09/24
Música: Estravagâncias
Ouça-se... Entre Ses Doigts, a sedução em forma de canção, com a voz de Hugo Frota a arrepiar pêlos da nuca. Ouça-se a marcha country de Cabbala (its amazing what they've done with me). Ouça-se a Canção do Marinheiro Insolente, a valsinha de um qualquer Maltese arrependido embalado num piano arrepiante, insolente. Ouça-se a força de Patient Spider, talvez o registo mais rock desta extravaganza em forma de disco (whip me, ohoh, beat me, ohoh, spank me, ohoh, hit me, ohoh), com a guitarra a sacudir-nos o corpo. E ouça-se o single, Tragic Queen, com pós-produção, mistura e masterização de Armando Teixeira,até nos apetecer gritar como eles (why can't i love again).
Ah, e não tente o caminho fácil de colar estas faixas ao que ouviu na Música Portuguesa dos últimos 20 anos. As influências estão lá, mas será que isso realmente interessa? Eu sei que este albúm vai ficar por muito tempo no leitor cá de casa. E não é por nada, é só porque me dá prazer.
2003/09/23
Música: Completamente fora de época!!!

Os Lambchop já andam nestas coisas há uns anitos, sempre num registo que se poderia chamar de novo-country e com bastante reconhecimento. O problema é que este Is a Woman não é country, nem novo nem antigo. É um conjunto estranho de paisagens solitárias. Uma voz grave, um piano, alguns outros intrumentos que quase não se ouvem... Completamente fora de qualquer época...
Mas continuando, só agora o consigo ouvir porque... Nem sempre estamos dispostos a entrar num disco ou num livro, e há aquelas obras que aguardam na nossa prateleira o momento certo em que olhamos para elas e dizemos: vem, estou pronto, ensina-me algo.
Música: Fora de época?

Falo de Out of Season, o disco que Beth Gibbons e Rustin Man editaram há perto de um ano. É um disco fabuloso que não me canso de ouvir, um registo que revela outra face da cantora que dá voz aos Portishead e que nos conduz a outras paragens do seu universo pessoal.
Imagine um fim de tarde... Uma casa silenciosa... Os últimos raios de sol que entram por uma janela... Um sofá confortável... Um gin tónico com um forte sabor a lima... E a voz de Beth Gibbons que quebra o silêncio para chamar a noite. Sublime...
2003/09/20
Livros: Um Diário muito especial
1930 e tão perto estamos.
«Para que quer esta criatura a inteligência, se não há meio de ser feliz?» dizia dantes o meu pai, indignado. Ó ingénuo pai de 60 anos, quando é que tu viste servir a inteligência para tornar feliz alguém? Quando, ó ingénuo pai de 60 anos?... Só se pode ser feliz simplificando, simplificando sempre, arrancando, diminuindo, esmagando, reduzindo; e a inteligência cria em volta de nós um mar imenso de ondas, de espumas, de destroços, no meio do qual somos depois o naúfrago que se revolta (...).
Quando morrer que alguém ao ler estes descosidos monólogos, leia o que sente sem o saber dizer (...) e realize o que eu não pude: conhecer-me.
Uma viagem que só tem bilhete de ida. Alguém se aventura?
2003/09/16
Livros: Que doçura é esta?

A Materna Doçura foi o primeiro romance de Possidónio Cachapa, editado em 1998 e escrito graças a uma bolsa de criação literária do Ministério da Cultura. Pelo menos por esta vez, os nossos impostos foram bem aplicados... O livro devora-se literalmente ao longo de uma narrativa que dobra o tempo e o espaço num crescendo de intensidade. As emoções são descritas com simplicidade, mesmo as mais violentas, e entramos sem dar por isso nas profundezas da história de Sacha, um homem marcado pela perda da sua mãe verdadeira a qual procura depois em quase todas as mulheres que conhece.
Possidónio Cachapa nasceu em Évora em 1965 e viveu lá até ao início da adolescência. Passou pelos Açores, estudou línguas e literaturas modernas e tornou-se num talentoso escritor, dramaturgo, argumentista e realizador. Depois de A Materna Doçura seguiram-se outros romances, peças de teatro e contos. E acho que a viagem dele só agora começou...
2003/09/15
Filmes: Ken Park, quem és tu?

E o filme prossegue a partir desse momento inicial, ignorando-o mas centrando-se afinal nele. As cenas são de um (sur)realismo quotidiano, agressivo, que provoca no público uma nítida indecisão comportamental: rir ou nem por isso. As reacções variam, consoante o tipo de insegurança pessoal que cada um construiu até aqui. Às vezes, olhar para a frente ou para o lado na sala de cinema torna-se quase tão fascinante como o próprio filme. O nosso corpo reage de uma forma tão transparente sem nós darmos por isso...
Ken Park atraiu atenções pelo seu lado por vezes erótico, com deslizes suavemente pornográficos (haverá pornografia suave?! deve existir para eu estar aqui a defini-la...). Mas no fundo é um filme violento, com deslizes de realismo agressivo, sobretudo porque pode ser transportado para cada uma das nossas vidas e daquelas dos que nos rodeiam. Rejeitamos (re)conhecer alguém naqueles papéis... Mas, bem lá no fundo, sabemos que existimos assim. Padronizados. Ainda bem que já atingi o que dizem ser a idade adulta... Deve ser difícil hoje ser-se adolescente. Pertubador mesmo. Se não recear este tipo de emoções, não hesite, vá.
2003/09/12
Teatro: Impressionante Alma!

Simone de Oliveira está muito bem como Alma, tal como Helmut Berger (não, não é o que aparece nos "Malditos" de Luchino Visconti) no papel de Mahler. Wolfram Rupperti como Gropius está intenso, tal como Paulus Manker no papel de Kokoschka está perfeitamente alucinado. Mas quem mais me impressionou foi a jovem Juana Pereira da Silva como uma das jovens Alma (são três).
Mas não confie em coisas que lê em blogs! Vá lá e veja. O bilhete não é barato (50€), mas inclui três horas de uma intensidade ímpar e um jantar simpático. A peça estreia hoje fica em cena de de quinta a domingo até 26 de Outubro. E se a dada altura sentir o chão a estremecer sob os seus pés não se assuste. É "só" a Quinta Sinfonia de Mahler que se inicia para um dos momentos mais intensos da peça...
2003/09/10
Livros: Vai um gin, Mário?

Mas não é disso que vos venho falar. O centro hoje está nos Mários. E o que são os Contos do Gin-Tonic? Uma pérola do surrealismo português. Um livro espantoso que só não é único porque no ano seguinte surgiram os Novos Contos do Gin. Aqueles senhores da barriga e dos óculos ainda andavam por lá mas este segundo livro também lhes passou ao lado e foi publicado alegremente. No Brasil os censores deviam ser de melhor qualidade sensória porque o proibiram. Aliás, é por isso que as novelas brasileiras ainda hoje são o que são... O gato Benevides bem que os avisou, mas não o quizeram ouvir. Coitados...
Mas afinal que histórias são estas? E que é feito do segundo Mário que já prometi uma data de vezes? Esperem... Estes dois livros contam histórias perfeitamente rocambolescas e incongruentes com a naturalidade de quem narra um conto de fadas. É verdade, é esse o charme do surrealismo, surpreende-nos e faz-nos pensar. Foi aí que entrou o segundo Mário, o Viegas. Apaixonado pelos textos do outro Mário, o Leiria, o segundo Mário, o Viegas, resolveu dar voz aos textos e percorrer o país várias vezes na pela do Mário Gin Tónico. Eu devo ter nascido um bocadinho tarde demais porque só o consegui ver uma vez nessa pele. Para nossa infelicidade, o segundo Mário já não anda por aí, mas parece que deixou gravações em discos de vinil à espera de serem encontradas numa qualquer feira da ladra. O primeiro foi mais organizado e deixou-nos os livros. Está à espera que lhe vão parar às mãos ou vai levantar-se e procurá-los?
2003/09/09
Música: Os sons da Terra

Primeira sugestão: a canção "Liebst du um Schönheit", escrita em segredo por Mahler no ano em que casou com Alma, é uma das mais belas declarações de amor jamais transformadas em música. Segunda sugestão: o terceiro andamento da Quinta Sinfonia de Mahler. Começada em 1901, Mahler continuou a trabalhar na sua Quinta Sinfonia intensamente até ao Outono de 1903 mas continuou a aperfeiçoá-la quase até ao fim da vida. O terceiro andamento, o Scherzo, é um hino a Alma e à alegria de viver que inundou o compositor. Mas esse momento existe num equilíbrio frágil entre o desespero dos dois primeiros andamentos e o desconforto dos dois últimos. Das várias gravações que estão disponíveis, recomendo a versão em que Pierre Boulez dirige a Filarmónica de Viena. Terceira sugestão: "Das Lied von der Erde", o "Canto da Terra". Este ciclo de seis canções foi escrito pouco tempo depois da morte da primeira filha de Mahler e Alma e no meio de uma forte crise conjugal entre os dois, o que se reflecte na melancolia destas canções. Os textos desta obra foram retirados de uma colectânea de antigos poemas chineses e parece que Mahler terá procurado consolo para a sua dor na contemplação da natureza.
Mas cuidado... Os perigos da exposição à música de Mahler são imprevisíveis. Quem sabe se ainda se apaixona subitamente por alguma alma vienense?
2003/09/08
Convite: Ainda no 11 de Setembro

A mim parece-me uma ideia fascinante. Se amas, deixa que parta. E caso tenha necessidade de ficar no seu escritório ou outro lugar fechado nesse dia, porque não deixar o seu livro na copa, no WC, no hall de entrada... mas faça-o. Se for viajar, deixe-o no aeroporto ou noutro lugar. Como diz a própria mensagem, se vir algum livro com um "ar de estar sozinho"... é porque está à sua espera. Leve-o consigo. Desde o Japão até ao USA, milhares de pessoas estarão a contribuir para o que chamam de "atentado..." mas desta vez poético ou literário, se preferirem. Já escolhi o meu, e você?
2003/09/05
Teatro: Ainda outra perspectiva (Polidrama)

Enjoy an exciting theatre event with an exquisite dinner in one.
2003/09/02
Filmes: Outras perspectivas

"An epic story of a man who could do anything... except be ordinary."
2003/09/01
Livros: Lugar comum este Verão
MST fez um trabalho de casa exaustivo, fica apenas uma curiosidade, se o Luis Bernardo Valença existiu, se não, quem era o Governador Civil de S. Tomé e Principe no principio do século XX. Leve como os fins de tarde, envolvente como a noite.